Revista Bimensal 
Edição 7 - Janeiro 05
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O STRESS NA PROFISSÃO PROFESSOR


 

Maria José Chambel
Prof. Auxiliar da FPCE da Universidade de Lisboa.
Formadora de Professores e Pessoal Não docente
 


A importância crescente de estudar o stress dos professores

Não é recente o reconhecimento de que as situações de trabalho podem interferir negativamente na saúde dos indivíduos. Concretamente, no caso dos professores, desde os anos 30 considerou-se que esta profissão favorecia o aparecimento de síndromas nervosos e a partir da segunda metade dos anos setenta começou a desenvolver-se investigações específicas sobre o stress profissional dos professores. Em 1981 a Organização Internacional do Trabalho considerou o stress como uma das principais causas de abandono da profissão docente, considerando a docência como uma profissão de risco físico e mental. No entanto, o estudo do stress profissional e suas repercussões para a saúde dos trabalhadores, consiste num dos temas que maior número de publicações e investigações tem suscitado nos últimos anos. Nestas duas ultimas décadas a desvalorização do papel tradicional do professor e, em simultâneo, o aumento da exigência social sobre o papel do professor vieram reafirmar a pertinência do estudo deste fenómeno neste grupo profissional.

Apesar de não ter sempre consequências negativas (distingue-se entre eustress, o stress positivo, e distress, o stress negativo (Selye, 1982), o interesse dos investigadores tem sido canalizado, de forma predominante, para a sua análise. A nível individual, como já referimos, existe evidência teórica e empírica de que as situações de stress vividas na profissão professor levam a alterações fisiológicas, emocionais e comportamentais, as quais favorecem uma diminuição da saúde e do bem-estar dos professores. Se pensarmos nos custos que representam para as escolas estas situações, facilmente compreendemos que as repercussões do stress profissional dos professores não se restringem às vivenciadas pelos professores, mas também incluem efeitos negativos para as escolas e para o sistema educativo. Os custos económicos e sociais decorrentes do absentismo, do abandono e do tratamento dos professores que vivem situações de stress, a par da diminuição do seu desempenho, têm sido destacados como efeitos negativos do stress profissional dos professores.


Afinal o que é o stress profissional?

Apesar de existirem múltiplas concepções e definições do conceito de stress, uma das mais divulgadas e estudada é a que considera que o stress profissional resulta da existência de um desajuste, real ou percebido, entre as exigências da situação e as capacidades ou os desejos do trabalhador para enfrentar essas exigências (Sells, 1970; McGrath, 1970). Genericamente, considera que o stress profissional aparece quando as exigências da situação excedem os recursos, desejos ou capacidades do trabalhador, isto é, há uma falha na adequação entre a pessoa e as exigências colocadas pela organização na qual trabalha. No entanto, este desequilíbrio pode ocorrer porque objectivamente as exigências do contexto excedem os recursos do trabalhador, ou porque este as percepciona como tal. Por exemplo, um professor pode considerar que não tem competência ou capacidade (independentemente de a ter ou não) para resolver os problemas de indisciplina ou de dificuldades de aprendizagem dos seus alunos, considerando que a sua situação profissional se caracteriza pela presença de factores stressores. Esta situação vai desencadear um conjunto de respostas negativas, que podem ser emocionais (p. ex., aumento da insatisfação, da irritabilidade e do desinteresse), fisiológicas (p. ex., aumento da pressão sanguínea, do ritmo cardíaco e dos níveis hormonais) e/ou comportamentais (p. ex. aumento do consumo de tabaco e drogas e deterioração das relações interpessoais). Quando estas situações são vividas de uma forma prolongada e desencadeiam, também de forma repetida, estas respostas negativas por parte dos indivíduos, a saúde do indivíduo vê-se diminuída, quer do ponto de vista mental (p. ex., depressão e burnout), quer do ponto de vista físico (p. ex., ataques cardíacos e ulceras de estômago).

De um modo geral, apelidam-se stressores aos factores e condições que desencadeiam stress, strain a resposta do indivíduo a esses estímulos stressores e stress é um termo mais geral para descrever as situações nas quais stressores e strain estão presentes (Buunk, De Jonge, Ybema, & De Wolff, 1998).
 

Factores stressores na profissão professor

Condições gerais da profissão

A pesquisa sobre as condições da envolvente geral da profissão professor é escassa. No entanto, a nossa experiência e o contacto directo com os professores tem revelado que a insegurança de emprego, o desempenho da actividade profissional afastado da área de residência, a mudança constante de escola e as dificuldades de progressão na carreira são, a maioria das vezes, factores que desencadeiam stress na vida dos professores.

Características do trabalho e do papel do professor

Várias características das tarefas dos professores têm sido destacadas como favorecendo o aparecimento de stress no exercício da sua profissão:

  • o trabalho excessivo (muitas turmas, elevado número de alunos por turma, diversificados níveis de ensino, carga horária, muitas tarefas administrativas e de coordenação de equipas);

  • a pressão do tempo, sendo necessário conciliar num tempo limitado um conjunto de tarefas diversificadas e urgentes (aulas, preparação de aulas e avaliações);
    a realização de tarefas que apelam a competências que o professor considera estarem para além da sua formação (actuar em situações sociais, realizar tarefas administrativas, ensinar alunos com níveis de competência muitos distintos, coordenar equipas);

  • a elevada responsabilidade ou, mais importante, uma certa indefinição de responsabilidade que advém do facto do papel do professor aparecer cada vez menos definido, sendo, por vezes, difícil estabelecer onde começa e acaba a função do professor e a função da família ou da sociedade;

  • o conflito que, por vezes, surge entre o papel de educador e o de transmissor de conhecimentos (por vezes os professores vêem-se confrontados com a necessidade de utilizar o tempo de aula para analisar e discutir situações problemáticas vividas na turma, mas em simultâneo consideram que esse tempo tem de ser utilizado para dar matéria, não comprometendo o cumprimento do programa da disciplina que leccionam);

  • a ausência de controlo, nomeadamente a impossibilidade de tomar decisões relacionadas com próprio trabalho, porque a legislação ou regulamento interno da escola especifica qual a actuação do professor.

Conflitos interpessoais

Existe evidência que os conflitos interpessoais podem desencadear stress e respectivas respostas por parte dos professores. Nestes conflitos aparecem com relevo os que existem entre colegas, com os órgãos de gestão, com os pais ou com os alunos, particularmente, desencadeados pela indisciplina ou falta de motivação dos alunos.

Constrangimentos da situação

Existem diversificados constrangimentos relacionados com as condições da escola, que são considerados pelos professores como factores que prejudicam o normal exercício das suas funções e que por isso são vividos como stressores. Por exemplo, a falta de materiais e equipamentos, como materiais audiovisuais e livros, a falta de colaboração dos serviços administrativos ou do pessoal auxiliar de acção educativa, as condições físicas adversas, como a degradação das instalações de algumas escolas, ou a ausência de autoridade por parte dos órgãos directivos, podem ser apontados como alguns desses factores.

O apoio social

O apoio social vivido no seio da escola, tem um sido considerado um factor com especial relevo na análise do stress dos professores. Particularmente a reflexão e a partilha entre colegas, que permite a cada professor perceber que os seus problemas não são exclusivos, que pode desabafar entre iguais que as suas palavras têm eco, que em conjunto é possível progredir na resolução dos problemas, tem sido demonstrada como uma que tem um efeito negativo no stress profissional.

O conflito trabalho-família

O conflito entre as exigências da família e as do trabalho, porque é difícil para os professores conciliar o tempo dedicado às actividades ou porque é difícil gerir as exigências psicológicas destas duas esferas da sua vida, têm sido referido como um factor importante para explicar o stress destes profissionais. Dois aspectos favorecem o relevo deste factor estressor na profissão professor. Primeiro, porque no ensino a divisão do tempo ou a separação das condições vividas no trabalho e na família não podem ser geridas de uma forma independente. Segundo, porque esta profissão é desempenhada, maioritariamente, por mulheres e está provado que são elas as que mais dificuldades têm na gestão deste conflito entre o trabalho e a família.

“Não me considero, actualmente uma boa gestora do tempo…” ”...deve-se à própria profissão, porque havendo picos de trabalho em certas alturas do ano, comecei a aperceber-me que havia um elevado acumular de tarefas…””…há noites mal dormidas, maior irritabilidade, menos paciência para lidar com determinados assuntos e com as pessoas, e dar importância a insignificâncias.” Professora Ana Isabel C. dos Santos Vaz

“À escola hoje em dia exige-se uma resposta satisfatória a uma série de competências que ultrapassam em muito saberes e conhecimentos. Socialmente a escola é responsável pela resolução de problemas (delinquência, toxicodependência, carências económicas, desajustamentos familiares, etc) que lhe são exteriores e que ultrapassam a sua esfera de acção. Ser professor é muito mais do que ser um simples transmissor de conhecimentos.”
Professora Ana Maria Antunes Ribeiro da Silva

“Como explicar que os três alunos que olham para mim me façam pôr em causa todo o meu desempenho como professor? Apenas tenho um desejo: que a aula acabe rapidamente. O silêncio intensifica-se! O verbo être é ignorado, as vogais desconhecida.”
Professora Aurora Beatriz. T. Frederique

“No meu caso, o maior problema é mesmo o excesso de trabalho. Não sou capaz de dizer não. Ás vezes é claríssima a sensação de estar a ser usado e abusado. Sucedem-se os fins de semana sem vida social, subordinando a família a esta má gestão (do quê?). Acumulam-se os jornais e os livros para ler…A elasticidade tem limites. Será solução recusar esse trabalho, afinal não obrigatório?!”
Professor Carlos M. M. Nascimento

“Tendo em conta que no dia-a-dia para além de ser professora sou também mãe de um rapaz de quatro anos e de uma rapariga de seis, muitas vezes sinto que não consigo fazer o que é preciso, no devido tempo. Para conseguir realizar todas as tarefas de que necessito, com frequência durmo menos horas do que devia e muitas vezes sinto que não consigo dar o melhor de mim e não consigo ter tempo livre para poder andar ao ar livre, actividade que gosto muito.” Professora Engrácia Bernardo

“Na sala de aula, a indisciplina pode representar para o professor uma violência difícil de suportar e ser por isso mesmo um factor primordial de stress no desempenho da sua actividade profissional. “…” Ao ter de lidar com uma gestão de comportamentos complexa e que em diversos casos implica um controlo seguro da sala de aula, o professor vê reduzida a sua disponibilidade para a tarefa de ensinar propriamente dita. Desta forma, a indisciplina da sala de aula condiciona inevitavelmente as oportunidades de ensinar e aprender e constitui um factor impeditivo do processo educativo.”
Professora Maria da Conceição A. Vieira Varela

“…numa escola foi muito stressante. Principalmente o último trimestre, uma vez que entrei em conflito com o novo director da escola, o que levou ao meu afastamento.”
Professora Maria Filomena M. C. Amorim Galvão

“Surgem, por vezes, dificuldades sérias devido à oposição interpessoal entre os professores, que em níveis razoáveis pode ser benéfica, mas quando toma proporções absurdas, desonestas e desleais, mina de forma negativa qualquer relacionamento e hipótese de avançar com um trabalho cujo destinatário é a Comunidade Escolar.”
Professora Teresa Dias

As intervenções para gerir o stress dos professores

A gestão do stress e a promoção do bem-estar dos professores pode ser conseguida através de diferentes intervenções, tanto centradas em desenvolver respostas adequadas às características adversas da profissão, como centradas em processos que procuram controlar essas mesmas características. Podemos distinguir, de um modo mais geral: as intervenções que têm como objectivo actuar nas características da profissão, diminuindo a presença de factores que desencadeiam stress; as intervenções que têm como objectivo actuar junto dos indivíduos, ajudando-os a lidar com as situações que, no contexto profissional, influenciam o seu stress.

Intervenções dirigidas ao professor

De entre as intervenções dirigidas ao professor podemos distinguir um conjunto de acções que se destinam a desenvolver os seus recursos para fazer face às condições adversas que encontra no seu trabalho, um conjunto de acções que têm em vista modificar a sua visão dessas mesmas condições e um conjunto de acções que têm em vista modificar as respostas do indivíduo a essas mesmas situações.

No primeiro grupo de intervenções, por exemplo, como o trabalho do professor o obriga a trabalhar em equipa e a resolver conflitos com colegas e alunos, desenvolvem-se intervenções dirigidas ao treino das competências sociais, particularmente interpessoais e de assertividade e colaboração. Ou porque o trabalho do professor o obriga a desenvolver um elevado número de tarefas e com prazos curtos, pode-se intervir para promover a capacidade do indivíduo para gerir o tempo. Podemos ainda ajudar o professor a ajustar-se às exigências do seu trabalho, procurando apoio externo quando há uma sobrecarga de trabalho ou ajustar o seu trabalho às suas exigências pessoais, desenvolvendo outras alternativas de emprego ou de carreira.

No segundo grupo de intervenções que têm como objectivo mudar a visão que o professor tem das suas condições de trabalho, podemos actuar mudando a perspectiva das condições adversas. Ou ensina-se o professor a procurar ver o lado positivo da situação (p. ex. ser professor é muito exigente porque obriga a lidar com pessoas muito diferentes, mas é um trabalho muito desafiante e motivador), ou ensina-se o professor a questionar a situação, analisando as verdadeiras consequências (p. ex. roubo muito tempos minhas aulas para resolver problemas de indisciplina, mas crio condições educativas fortemente vantajosas), ensina-se o indivíduo a substituir a sua responsabilidade por a de outro face a um acontecimento adverso (p. ex. não consegui evitar a retenção destes alunos, apesar de ter feito tudo ao meu alcance, mas não admira dado as características da sua família). Ainda neste grupo podem desenvolver-se estratégias que têm como objectivo desenvolver determinadas características no indivíduo, nomeadamente, crenças de auto-eficácia, de auto-estima e de tolerância à ambiguidade, porque se considera que estas características podem ajudar o professor a ter uma percepção mais favorável das condições adversas que vive na sua situação de trabalho.

Finalmente, no grupo de intervenções que têm como objectivo modificar as respostas do professor às condições adversas do seu trabalho, podemos ajudá-lo a controlar sintomas, colocando-o alerta aos sinais fisiológicos que acompanham uma reacção de stress, ajudando-o a aplicar técnicas de relaxação ou promovendo a prática do exercício físico. Ou podemos ajudar o indivíduo a deixar de ter determinadas respostas negativas às situações adversas, como por exemplo intervirmos com um programa de ajuda para deixar de fumar ou de consumir álcool ou drogas.

“Penso que se nos autodisciplinarmos e criarmos o hábito de planear as nossas actividades de acordo com o tempo que temos disponível, podemos aliviar a tensão nos momentos de maior sobrecarga de trabalho.” …depois de ter experimentado fazer uma planificação semanal por escrito, comenta: “No final da semana verifiquei que os objectivos foram cumpridos. Não transitou nenhuma tarefa planeada para a semana seguinte e o fim de semana ficou livre de trabalhos escolares. Fazer a planificação por escrito obrigou-me a ser mais criteriosa, a penmsar na distribuição de tarefas pelos dias de semana em função do grau de dificuldade da tarefa, do tempo necessário para a sua execução e da minha capacidade de concentração…”
Professora Ana Maria Antunes Ribeiro da Silva

O stress por contágio - “sinto stress quando a stôra vem com stress”- pode ser evitado através do controlo pelo professor de factores stressores que se localizam a montante, nomeadamente, os constrangimentos da leccionação do programa da disciplina, ou as expectativas sem correspondência real relativamente às capacidades e ao empenho dos alunos” Professora Áurea Helena S. Duarte Ferreira

“Tenho de ser mais assertiva: fazer com que os outros compreendam e aceitem a minha posição; mostrar respeito por mim própria e pelos outros; escolher o momento adequado para dizer o que penso; utilizar a linguagem corporal; deixar os outros responder.” Cândida R. A. dos Santos Rodrigues

“O tempo que gasto em determinadas tarefas torna-se inútil e muito desnecessário se não conseguir canaliza-lo para tarefas mais importantes e prioritárias com objectivos muito bem definidos.” Educadora de Infância Dulce da Silva Oliveira

“Qualquer “campanha” anti-stress a levar a cabo a nível pessoal deverá começar por analisar, com rigor, as causas do stress e só depois poderá avançar para o “combate”. Professora Lília L. Moura-Carvalho

“É preciso percebermos que nunca conseguiremos fazer tudo o que gostaríamos de fazer e que por isso mesmo devemos procurar a medida do que é razoável fazermos, e de preferência uma coisa de cada vez.”…”Dito de outra maneira: quebra a rotina e vai arejar.” Professora Lucília Batista T. Castro Figueira

em relação à actuação face à indisciplina dos alunos - “…em vez de ter uma abordagem comunicativa competitiva, em que na prática os resultados eram imediatos, mas no fundo não resolvia o problema em si, uma vez que o aluno reagia a medo, sem a percepção da sua má conduta. Aprendi que um comportamento comunicacional de colaboração me permite a resolução do problema no seu todo. Ou seja, ouvindo o aluno, escutando os seus motivos, posso persuadi-lo a sua conduta, dando-lhe razões válidas para alteração do seu comportamento.” Professor Manuel Abreu L. Mota Capitão

no fim do trabalho final - “E agora, cumprindo alguns aspectos da abordagem da gestão do tempo: dispor de tempo para relaxar e acabar o dia de uma forma agradável… Dou este trabalho por terminado e vou contar uma história interessante ao João (filho de 7 anos) e ajudar a Ana Sofia (filha de 13 anos) a resolver um problema de Matemática… Depois vou pensar um pouco só em mim!” Professora Maria Helena Sanches F. Carvalho

“Considero que, o conflito em si, não é destrutivo e pode ter muitas funções positivas. Tal como um “jogo” pode ser aliciante e contagiaste! Pode prevenir a estagnação decorrente do equilíbrio constante da concordância, estimular o interesse e a curiosidade pela descoberta dos problemas e respectiva resolução. Pode ser a raiz da mudança grupal, pessoal…” Professora Olga Maria Simões Santiago

“Cada vez mais os pais depositam os filhos na escola, esperando que esta resolva problemas para os quais não está preparada. Assim, os professores passaram a desempenhar o papel de educadores, pais assistentes sociais e até confidentes.” Professora Paula Falcão


As intervenções na escola

Como referimos anteriormente, podemos intervir de forma directa nas características da escola e nas condições de trabalho do professor para evitar o stress na sua vida profissional.
Por exemplo, no que se refere às características do trabalho, a ambiguidade do papel tem efeitos indesejáveis no stress dos professores, podendo a intervenção promover o diálogo e o trabalho conjunto entre os agentes educativos, ajudando a definir as funções e responsabilidades dos professores. Ainda no que se refere às características do trabalho, como a escola está estruturada em equipas (conselhos de turma, grupos disciplinares, conselhos executivos…), torna-se necessário intervir nos processos de interacção, melhorando a comunicação e o apoio social entre os membros dessas equipas. Ou se, como vimos, o suporte social entre os professores pode ajudar a diminuir o stress, então podemos intervir para melhorar esta competência por parte dos professores.

Em relação a um conflito numa equipa da escola: “O conflito chegou a ser tão elevado que diminuia a produtividade e a satisfação das pessoas no seu trabalho”…”Definir objectivos comuns e definir funções é essencial, cada pessoa terá de compreender o outro e estabelecer com ele uma relação de entre-ajuda. As tarefas e responsabilidades têm de ser bem definidas, assim o sucesso do trabalho é garantido e adequam-se as suas expectativas às dos outros.” Professora Ana Maria C. P. Neves Fonseca

“É muito importante, para resolver o conflitos, desenvolver estratégias de colaboração, de modo a permitir que ambas as partes saiam a ganhar. Para que isto resulte, é importantíssimo sermos mais flexíveis nas nossas atitudes, respeitarmos as opiniões dos colegas e alunos e, dessa forma, evitarmos que haja prejuízo, quer para o funcionamento da escola, quer para o bem estar das pessoas envolvidas no conflito.” Professora Cidália Marques

acerca do abandono da escola, no inicio do secundário - “…agora vou passar a falar com os outros professores da turma, tentar envolver a turma. Todas estas acções, talvez façam com que a minha preocupação seja partilhada e assim o problema deixe de ser “só meu” e deixarei talvez de me sentir tão envolvida.” Professora Clarinda Maria C. Almeida

“Convencer o professor, quando tem conflito com alunos, que a sua posição não é a única correcta, que não existem perdedores e ganhadores, que trabalhar em equipa (Conselho de Turma) ajuda a resolver o conflito, bem… não é tarefa fácil.” Professora Isabel Maria S. Ribeiro Madeira

“No contexto escola, uma equipa de trabalho distingue-se pelo facto dos seus elementos desempenharem funções de trabalho interdependente e partilharem a responsabilidade por resultados específicos. A existência de interesses comuns pode determinar a coesão desta equipa e quanto maior for o consenso face a estes objectivos e à sua importância, maior será o grau de coesão interna deste grupo de trabalho.” Educadora de Infância Margarida C.F. Aurélio

…”na sequência do diálogo e das estratégias utilizadas nas aulas, venceu a fobia pela disciplina, empenhou-se, adquiriu alguns conhecimentos e o que é facto é que se tornou um aliado em vez de um adversário, adquiriu algumas noções básicas sobre a disciplina e sobretudo modificou a sua atitude.” Professora Manuela de Sousa

acerca de uma reunião de departamento - “Implementaram-se princípios de condução de reuniões - o papel do coordenador, foram providenciadas as condições materiais, definiu-se o objectivo geral da reunião e o coordenador certificou-se de que os elementos do grupo tinham o mesmo objectivo e apelou às experiências de todos os participantes, fez o grupo trabalhar para a resolução do problema com a auscultação da opinião de todos e sintetizou e reformulou todas as ideias. Os objectivos da reunião foram atingidos.” Professora Maria de Fátima S. Batista Vaz

“Um aspecto central na resolução do problema da indisciplina será a solidariedade e cooperação que deverá existir na nossa classe. Seria vantajoso que todos os professores adoptassem condutas comuns sobre certos comportamentos, estabelecessem regras claras e inequívocas pelas quais os professores e os alunos se regessem.” Professora Maria Isabel G. L. P. Fernandes Oliveira

acerca de um projecto de divulgação das actividades desenvolvidas pelos clubes e projectos da escola - “Não foi fácil mudar comportamentos e atitudes institucionalizadas, mobilizar os diferentes grupos para colocar em prática objectivos finais comuns mas, revelou-se um trabalho gratificaste que nos tem dado imenso prazer. Qualquer pequena adesão, qualquer partilha efectuada, tem sido para nós uma batalha ganha, uma grande vitória.” Professora Vanda Grilo


*Os depoimentos dos professores foram recolhidos na acção de formação “Controlo do stress- uma aprendizagem para quem ensina”, Proformar, 2004.
 


Bibliografia

Buunk, B.P., De Jonge, J., Ybema, J.F. & Wolff, J. (Buunk, B.P., De Jonge, J., Ybema, J.F., & De Wolff, C.J. (1998). Psychosocial aspects of occupational stress. In P. J. Drenth, H. Thierry, & C.J. de Wolff (Eds.), The Handbook of Work and Organizational Psychology (2nd ed., vol. 2, pp.145-182 ). Brighton: Psychology Press.
Kahn, R.L. & Byosiere, P. (1994). Stress in Organizations. In M. Dunnette (Ed.). Handbook of Industrial and Organizational Psychology. Chicago: Rand Menally.
Driscoli, M.P. & Cooper, C.P. (1996). Sources and Management of Excessive Job Stress and Burnout. P. Warr (Ed.). Psychology at Work. (pp. 188-223). New York: Peguin.
Sutherland, V.J. & Cooper, C.L. (s.d.). Sources of work stress. J.J. Hurrell, L.R. Murphy, S.L. Sauter and C.L. Cooper (Eds.). Occupational Stress. Issues and developments in research. New York: Taylor & Francis.