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O STRESS NA PROFISSÃO PROFESSOR
Prof.
Auxiliar da FPCE da Universidade de Lisboa.
Formadora de Professores e Pessoal Não docente
A importância crescente de estudar o stress dos professores
Não é recente o reconhecimento de que as situações de
trabalho podem interferir negativamente na saúde dos
indivíduos. Concretamente, no caso dos professores, desde os
anos 30 considerou-se que esta profissão favorecia o
aparecimento de síndromas nervosos e a partir da
segunda metade dos anos setenta começou a desenvolver-se
investigações específicas sobre o stress profissional
dos professores. Em 1981 a Organização Internacional do
Trabalho considerou o stress como uma das principais
causas de abandono da profissão docente, considerando a
docência como uma profissão de risco físico e mental. No
entanto, o estudo do stress profissional e suas repercussões
para a saúde dos trabalhadores, consiste num dos temas que
maior número de publicações e investigações tem suscitado nos
últimos anos. Nestas duas ultimas décadas a desvalorização do
papel tradicional do professor e, em simultâneo, o aumento da
exigência social sobre o papel do professor vieram reafirmar a
pertinência do estudo deste fenómeno neste grupo profissional.
Apesar de não ter sempre consequências negativas
(distingue-se entre eustress, o stress positivo,
e distress, o stress negativo (Selye, 1982), o
interesse dos investigadores tem sido canalizado, de forma
predominante, para a sua análise. A nível individual, como já
referimos, existe evidência teórica e empírica de que as
situações de stress vividas na profissão professor levam a
alterações fisiológicas, emocionais e comportamentais, as
quais favorecem uma diminuição da saúde e do bem-estar dos
professores. Se pensarmos nos custos que representam para as
escolas estas situações, facilmente compreendemos que as
repercussões do stress profissional dos professores não
se restringem às vivenciadas pelos professores, mas também
incluem efeitos negativos para as escolas e para o sistema
educativo. Os custos económicos e sociais decorrentes do
absentismo, do abandono e do tratamento dos professores que
vivem situações de stress, a par da diminuição do seu
desempenho, têm sido destacados como efeitos negativos do
stress profissional dos professores.
Afinal o que é o stress profissional?
Apesar de existirem múltiplas concepções e definições
do conceito de stress, uma das mais divulgadas e
estudada é a que considera que o stress profissional
resulta da existência de um desajuste, real ou percebido,
entre as exigências da situação e as capacidades ou os desejos
do trabalhador para enfrentar essas exigências (Sells, 1970;
McGrath, 1970). Genericamente, considera que o stress
profissional aparece quando as exigências da situação excedem
os recursos, desejos ou capacidades do trabalhador, isto é, há
uma falha na adequação entre a pessoa e as exigências
colocadas pela organização na qual trabalha. No entanto, este
desequilíbrio pode ocorrer porque objectivamente as exigências
do contexto excedem os recursos do trabalhador, ou porque este
as percepciona como tal. Por exemplo, um professor pode
considerar que não tem competência ou capacidade
(independentemente de a ter ou não) para resolver os problemas
de indisciplina ou de dificuldades de aprendizagem dos seus
alunos, considerando que a sua situação profissional se
caracteriza pela presença de factores stressores. Esta
situação vai desencadear um conjunto de respostas negativas,
que podem ser emocionais (p. ex., aumento da insatisfação, da
irritabilidade e do desinteresse), fisiológicas (p. ex.,
aumento da pressão sanguínea, do ritmo cardíaco e dos níveis
hormonais) e/ou comportamentais (p. ex. aumento do consumo de
tabaco e drogas e deterioração das relações interpessoais).
Quando estas situações são vividas de uma forma prolongada e
desencadeiam, também de forma repetida, estas respostas
negativas por parte dos indivíduos, a saúde do indivíduo vê-se
diminuída, quer do ponto de vista mental (p. ex., depressão e
burnout), quer do ponto de vista físico (p. ex., ataques
cardíacos e ulceras de estômago).
De um modo geral, apelidam-se stressores aos
factores e condições que desencadeiam stress, strain a
resposta do indivíduo a esses estímulos stressores e
stress é um termo mais geral para descrever as situações
nas quais stressores e strain estão presentes (Buunk, De Jonge,
Ybema, & De Wolff, 1998).
Factores stressores na profissão professor
Condições gerais da profissão
A pesquisa sobre as condições da envolvente geral da
profissão professor é escassa. No entanto, a nossa experiência
e o contacto directo com os professores tem revelado que a
insegurança de emprego, o desempenho da actividade
profissional afastado da área de residência, a mudança
constante de escola e as dificuldades de progressão na
carreira são, a maioria das vezes, factores que desencadeiam
stress na vida dos professores.
Características do trabalho e do papel do professor
Várias características das tarefas dos professores têm
sido destacadas como favorecendo o aparecimento de stress no
exercício da sua profissão:
-
o trabalho excessivo (muitas turmas, elevado número de alunos
por turma, diversificados níveis de ensino, carga horária,
muitas tarefas administrativas e de coordenação de equipas);
-
a pressão do tempo, sendo necessário conciliar num tempo
limitado um conjunto de tarefas diversificadas e urgentes
(aulas, preparação de aulas e avaliações);
a realização de tarefas que apelam a competências que o
professor considera estarem para além da sua formação (actuar
em situações sociais, realizar tarefas administrativas,
ensinar alunos com níveis de competência muitos distintos,
coordenar equipas);
-
a elevada responsabilidade ou, mais importante, uma certa
indefinição de responsabilidade que advém do facto do papel do
professor aparecer cada vez menos definido, sendo, por vezes,
difícil estabelecer onde começa e acaba a função do professor
e a função da família ou da sociedade;
-
o conflito que, por vezes, surge entre o papel de educador e o
de transmissor de conhecimentos (por vezes os
professores vêem-se confrontados com a necessidade de utilizar
o tempo de aula para analisar e discutir situações
problemáticas vividas na turma, mas em simultâneo consideram
que esse tempo tem de ser utilizado para dar matéria, não
comprometendo o cumprimento do programa da disciplina que
leccionam);
-
a ausência de controlo, nomeadamente a impossibilidade de
tomar decisões relacionadas com próprio trabalho, porque a
legislação ou regulamento interno da escola especifica qual a
actuação do professor.
Conflitos interpessoais
Existe evidência que os conflitos interpessoais podem
desencadear stress e respectivas respostas por parte
dos professores. Nestes conflitos aparecem com relevo os que
existem entre colegas, com os órgãos de gestão, com os pais ou
com os alunos, particularmente, desencadeados pela
indisciplina ou falta de motivação dos alunos.
Constrangimentos da situação
Existem diversificados constrangimentos relacionados
com as condições da escola, que são considerados pelos
professores como factores que prejudicam o normal exercício
das suas funções e que por isso são vividos como stressores.
Por exemplo, a falta de materiais e equipamentos, como
materiais audiovisuais e livros, a falta de colaboração dos
serviços administrativos ou do pessoal auxiliar de acção
educativa, as condições físicas adversas, como a degradação
das instalações de algumas escolas, ou a ausência de
autoridade por parte dos órgãos directivos, podem ser
apontados como alguns desses factores.
O apoio social
O apoio social vivido no seio da escola, tem um sido
considerado um factor com especial relevo na análise do stress
dos professores. Particularmente a reflexão e a partilha entre
colegas, que permite a cada professor perceber que os seus
problemas não são exclusivos, que pode desabafar entre
iguais que as suas palavras têm eco, que em conjunto é
possível progredir na resolução dos problemas, tem sido
demonstrada como uma que tem um efeito negativo no stress
profissional.
O conflito trabalho-família
O conflito entre as exigências da família e as do
trabalho, porque é difícil para os professores conciliar o
tempo dedicado às actividades ou porque é difícil gerir as
exigências psicológicas destas duas esferas da sua vida, têm
sido referido como um factor importante para explicar o stress
destes profissionais. Dois aspectos favorecem o relevo deste
factor estressor na profissão professor. Primeiro,
porque no ensino a divisão do tempo ou a separação das
condições vividas no trabalho e na família não podem ser
geridas de uma forma independente. Segundo, porque esta
profissão é desempenhada, maioritariamente, por mulheres e
está provado que são elas as que mais dificuldades têm na
gestão deste conflito entre o trabalho e a família.
“Não me considero, actualmente uma boa gestora do tempo…”
”...deve-se à própria profissão, porque havendo picos de
trabalho em certas alturas do ano, comecei a aperceber-me que
havia um elevado acumular de tarefas…””…há noites mal
dormidas, maior irritabilidade, menos paciência para lidar com
determinados assuntos e com as pessoas, e dar importância a
insignificâncias.” Professora Ana Isabel C. dos Santos Vaz
“À escola hoje em dia exige-se uma resposta satisfatória a uma
série de competências que ultrapassam em muito saberes e
conhecimentos. Socialmente a escola é responsável pela
resolução de problemas (delinquência, toxicodependência,
carências económicas, desajustamentos familiares, etc) que lhe
são exteriores e que ultrapassam a sua esfera de acção. Ser
professor é muito mais do que ser um simples transmissor de
conhecimentos.” Professora Ana Maria Antunes Ribeiro da
Silva
“Como explicar que os três alunos que olham para mim me façam
pôr em causa todo o meu desempenho como professor? Apenas
tenho um desejo: que a aula acabe rapidamente. O silêncio
intensifica-se! O verbo être é ignorado, as vogais
desconhecida.” Professora Aurora Beatriz. T. Frederique
“No meu caso, o maior problema é mesmo o excesso de trabalho.
Não sou capaz de dizer não. Ás vezes é claríssima a sensação
de estar a ser usado e abusado. Sucedem-se os fins de semana
sem vida social, subordinando a família a esta má gestão (do
quê?). Acumulam-se os jornais e os livros para ler…A
elasticidade tem limites. Será solução recusar esse trabalho,
afinal não obrigatório?!” Professor Carlos M. M.
Nascimento
“Tendo em conta que no dia-a-dia para além de ser
professora sou também mãe de um rapaz de quatro anos e de uma
rapariga de seis, muitas vezes sinto que não consigo fazer o
que é preciso, no devido tempo. Para conseguir realizar todas
as tarefas de que necessito, com frequência durmo menos horas
do que devia e muitas vezes sinto que não consigo dar o melhor
de mim e não consigo ter tempo livre para poder andar ao ar
livre, actividade que gosto muito.” Professora Engrácia
Bernardo
“Na sala de aula, a indisciplina pode representar para o
professor uma violência difícil de suportar e ser por isso
mesmo um factor primordial de stress no desempenho da sua
actividade profissional. “…” Ao ter de lidar com uma gestão de
comportamentos complexa e que em diversos casos implica um
controlo seguro da sala de aula, o professor vê reduzida a sua
disponibilidade para a tarefa de ensinar propriamente dita.
Desta forma, a indisciplina da sala de aula condiciona
inevitavelmente as oportunidades de ensinar e aprender e
constitui um factor impeditivo do processo educativo.”
Professora Maria da Conceição A. Vieira Varela
“…numa escola foi muito stressante. Principalmente o último
trimestre, uma vez que entrei em conflito com o novo director
da escola, o que levou ao meu afastamento.” Professora
Maria Filomena M. C. Amorim Galvão
“Surgem, por vezes, dificuldades sérias devido à oposição
interpessoal entre os professores, que em níveis razoáveis
pode ser benéfica, mas quando toma proporções absurdas,
desonestas e desleais, mina de forma negativa qualquer
relacionamento e hipótese de avançar com um trabalho cujo
destinatário é a Comunidade Escolar.” Professora Teresa
Dias
As intervenções para gerir o stress dos professores
A gestão do stress e a promoção do bem-estar dos
professores pode ser conseguida através de diferentes
intervenções, tanto centradas em desenvolver respostas
adequadas às características adversas da profissão, como
centradas em processos que procuram controlar essas mesmas
características. Podemos distinguir, de um modo mais geral: as
intervenções que têm como objectivo actuar nas características
da profissão, diminuindo a presença de factores que
desencadeiam stress; as intervenções que têm como objectivo
actuar junto dos indivíduos, ajudando-os a lidar com as
situações que, no contexto profissional, influenciam o seu
stress.
Intervenções dirigidas ao professor
De entre as intervenções dirigidas ao professor podemos
distinguir um conjunto de acções que se destinam a desenvolver
os seus recursos para fazer face às condições adversas que
encontra no seu trabalho, um conjunto de acções que têm em
vista modificar a sua visão dessas mesmas condições e um
conjunto de acções que têm em vista modificar as respostas do
indivíduo a essas mesmas situações.
No primeiro grupo de intervenções, por exemplo, como o
trabalho do professor o obriga a trabalhar em equipa e a
resolver conflitos com colegas e alunos, desenvolvem-se
intervenções dirigidas ao treino das competências sociais,
particularmente interpessoais e de assertividade e
colaboração. Ou porque o trabalho do professor o obriga a
desenvolver um elevado número de tarefas e com prazos curtos,
pode-se intervir para promover a capacidade do indivíduo para
gerir o tempo. Podemos ainda ajudar o professor a ajustar-se
às exigências do seu trabalho, procurando apoio externo quando
há uma sobrecarga de trabalho ou ajustar o seu trabalho às
suas exigências pessoais, desenvolvendo outras alternativas de
emprego ou de carreira.
No segundo grupo de intervenções que têm como objectivo mudar
a visão que o professor tem das suas condições de trabalho,
podemos actuar mudando a perspectiva das condições adversas.
Ou ensina-se o professor a procurar ver o lado positivo da
situação (p. ex. ser professor é muito exigente porque obriga
a lidar com pessoas muito diferentes, mas é um trabalho muito
desafiante e motivador), ou ensina-se o professor a questionar
a situação, analisando as verdadeiras consequências (p. ex.
roubo muito tempos minhas aulas para resolver problemas de
indisciplina, mas crio condições educativas fortemente
vantajosas), ensina-se o indivíduo a substituir a sua
responsabilidade por a de outro face a um acontecimento
adverso (p. ex. não consegui evitar a retenção destes alunos,
apesar de ter feito tudo ao meu alcance, mas não admira dado
as características da sua família). Ainda neste grupo podem
desenvolver-se estratégias que têm como objectivo desenvolver
determinadas características no indivíduo, nomeadamente,
crenças de auto-eficácia, de auto-estima e de tolerância à
ambiguidade, porque se considera que estas características
podem ajudar o professor a ter uma percepção mais favorável
das condições adversas que vive na sua situação de trabalho.
Finalmente, no grupo de intervenções que têm como objectivo
modificar as respostas do professor às condições adversas do
seu trabalho, podemos ajudá-lo a controlar sintomas,
colocando-o alerta aos sinais fisiológicos que acompanham uma
reacção de stress, ajudando-o a aplicar técnicas de relaxação
ou promovendo a prática do exercício físico. Ou podemos ajudar
o indivíduo a deixar de ter determinadas respostas negativas
às situações adversas, como por exemplo intervirmos com um
programa de ajuda para deixar de fumar ou de consumir álcool
ou drogas.
“Penso que se nos autodisciplinarmos e criarmos o hábito de
planear as nossas actividades de acordo com o tempo que temos
disponível, podemos aliviar a tensão nos momentos de maior
sobrecarga de trabalho.” …depois de ter experimentado fazer
uma planificação semanal por escrito, comenta: “No final da
semana verifiquei que os objectivos foram cumpridos. Não
transitou nenhuma tarefa planeada para a semana seguinte e o
fim de semana ficou livre de trabalhos escolares. Fazer a
planificação por escrito obrigou-me a ser mais criteriosa, a
penmsar na distribuição de tarefas pelos dias de semana em
função do grau de dificuldade da tarefa, do tempo necessário
para a sua execução e da minha capacidade de concentração…”
Professora Ana Maria Antunes Ribeiro da Silva
O stress por contágio - “sinto stress quando a stôra vem com
stress”- pode ser evitado através do controlo pelo professor
de factores stressores que se localizam a montante,
nomeadamente, os constrangimentos da leccionação do programa
da disciplina, ou as expectativas sem correspondência real
relativamente às capacidades e ao empenho dos alunos”
Professora Áurea Helena S. Duarte Ferreira
“Tenho de ser mais assertiva: fazer com que os outros
compreendam e aceitem a minha posição; mostrar respeito por
mim própria e pelos outros; escolher o momento adequado para
dizer o que penso; utilizar a linguagem corporal; deixar os
outros responder.” Cândida R. A. dos Santos Rodrigues
“O tempo que gasto em determinadas tarefas torna-se inútil e
muito desnecessário se não conseguir canaliza-lo para tarefas
mais importantes e prioritárias com objectivos muito bem
definidos.” Educadora de Infância Dulce da Silva Oliveira
“Qualquer “campanha” anti-stress a levar a cabo a nível
pessoal deverá começar por analisar, com rigor, as causas do
stress e só depois poderá avançar para o “combate”. Professora
Lília L. Moura-Carvalho
“É preciso percebermos que nunca conseguiremos fazer tudo o
que gostaríamos de fazer e que por isso mesmo devemos procurar
a medida do que é razoável fazermos, e de preferência uma
coisa de cada vez.”…”Dito de outra maneira: quebra a rotina e
vai arejar.” Professora Lucília Batista T. Castro Figueira
em relação à actuação face à indisciplina dos alunos -
“…em vez de ter uma abordagem comunicativa competitiva, em que
na prática os resultados eram imediatos, mas no fundo não
resolvia o problema em si, uma vez que o aluno reagia a medo,
sem a percepção da sua má conduta. Aprendi que um
comportamento comunicacional de colaboração me permite a
resolução do problema no seu todo. Ou seja, ouvindo o aluno,
escutando os seus motivos, posso persuadi-lo a sua conduta,
dando-lhe razões válidas para alteração do seu comportamento.”
Professor Manuel Abreu L. Mota Capitão
no fim do trabalho final - “E agora, cumprindo alguns
aspectos da abordagem da gestão do tempo: dispor de tempo para
relaxar e acabar o dia de uma forma agradável… Dou este
trabalho por terminado e vou contar uma história interessante
ao João (filho de 7 anos) e ajudar a Ana Sofia (filha de 13
anos) a resolver um problema de Matemática… Depois vou pensar
um pouco só em mim!” Professora Maria Helena Sanches F.
Carvalho
“Considero que, o conflito em si, não é destrutivo e pode ter
muitas funções positivas. Tal como um “jogo” pode ser
aliciante e contagiaste! Pode prevenir a estagnação decorrente
do equilíbrio constante da concordância, estimular o interesse
e a curiosidade pela descoberta dos problemas e respectiva
resolução. Pode ser a raiz da mudança grupal, pessoal…”
Professora Olga Maria Simões Santiago
“Cada vez mais os pais depositam os filhos na escola,
esperando que esta resolva problemas para os quais não está
preparada. Assim, os professores passaram a desempenhar o
papel de educadores, pais assistentes sociais e até
confidentes.” Professora Paula Falcão
As intervenções na escola
Como referimos anteriormente, podemos intervir de forma
directa nas características da escola e nas condições de
trabalho do professor para evitar o stress na sua vida
profissional.
Por exemplo, no que se refere às características do trabalho,
a ambiguidade do papel tem efeitos indesejáveis no stress dos
professores, podendo a intervenção promover o diálogo e o
trabalho conjunto entre os agentes educativos, ajudando a
definir as funções e responsabilidades dos professores. Ainda
no que se refere às características do trabalho, como a escola
está estruturada em equipas (conselhos de turma, grupos
disciplinares, conselhos executivos…), torna-se necessário
intervir nos processos de interacção, melhorando a comunicação
e o apoio social entre os membros dessas equipas. Ou se, como
vimos, o suporte social entre os professores pode ajudar a
diminuir o stress, então podemos intervir para melhorar esta
competência por parte dos professores.
Em relação a um conflito numa equipa da escola: “O conflito
chegou a ser tão elevado que diminuia a produtividade e a
satisfação das pessoas no seu trabalho”…”Definir objectivos
comuns e definir funções é essencial, cada pessoa terá de
compreender o outro e estabelecer com ele uma relação de
entre-ajuda. As tarefas e responsabilidades têm de ser bem
definidas, assim o sucesso do trabalho é garantido e
adequam-se as suas expectativas às dos outros.” Professora
Ana Maria C. P. Neves Fonseca
“É muito importante, para resolver o conflitos, desenvolver
estratégias de colaboração, de modo a permitir que ambas as
partes saiam a ganhar. Para que isto resulte, é
importantíssimo sermos mais flexíveis nas nossas atitudes,
respeitarmos as opiniões dos colegas e alunos e, dessa forma,
evitarmos que haja prejuízo, quer para o funcionamento da
escola, quer para o bem estar das pessoas envolvidas no
conflito.” Professora Cidália Marques
acerca do abandono da escola, no inicio do secundário -
“…agora vou passar a falar com os outros professores da turma,
tentar envolver a turma. Todas estas acções, talvez façam com
que a minha preocupação seja partilhada e assim o problema
deixe de ser “só meu” e deixarei talvez de me sentir tão
envolvida.” Professora Clarinda Maria C. Almeida
“Convencer o professor, quando tem conflito com alunos, que
a sua posição não é a única correcta, que não existem
perdedores e ganhadores, que trabalhar em equipa (Conselho de
Turma) ajuda a resolver o conflito, bem… não é tarefa fácil.”
Professora Isabel Maria S. Ribeiro Madeira
“No contexto escola, uma equipa de trabalho distingue-se
pelo facto dos seus elementos desempenharem funções de
trabalho interdependente e partilharem a responsabilidade por
resultados específicos. A existência de interesses comuns pode
determinar a coesão desta equipa e quanto maior for o consenso
face a estes objectivos e à sua importância, maior será o grau
de coesão interna deste grupo de trabalho.” Educadora de
Infância Margarida C.F. Aurélio
…”na sequência do diálogo e das estratégias utilizadas nas
aulas, venceu a fobia pela disciplina, empenhou-se, adquiriu
alguns conhecimentos e o que é facto é que se tornou um aliado
em vez de um adversário, adquiriu algumas noções básicas sobre
a disciplina e sobretudo modificou a sua atitude.”
Professora Manuela de Sousa
acerca de uma reunião de departamento - “Implementaram-se
princípios de condução de reuniões - o papel do coordenador,
foram providenciadas as condições materiais, definiu-se o
objectivo geral da reunião e o coordenador certificou-se de
que os elementos do grupo tinham o mesmo objectivo e apelou às
experiências de todos os participantes, fez o grupo trabalhar
para a resolução do problema com a auscultação da opinião de
todos e sintetizou e reformulou todas as ideias. Os objectivos
da reunião foram atingidos.” Professora Maria de Fátima S.
Batista Vaz
“Um aspecto central na resolução do problema da
indisciplina será a solidariedade e cooperação que deverá
existir na nossa classe. Seria vantajoso que todos os
professores adoptassem condutas comuns sobre certos
comportamentos, estabelecessem regras claras e inequívocas
pelas quais os professores e os alunos se regessem.”
Professora Maria Isabel G. L. P. Fernandes Oliveira
acerca de um projecto de divulgação das actividades
desenvolvidas pelos clubes e projectos da escola - “Não foi
fácil mudar comportamentos e atitudes institucionalizadas,
mobilizar os diferentes grupos para colocar em prática
objectivos finais comuns mas, revelou-se um trabalho
gratificaste que nos tem dado imenso prazer. Qualquer pequena
adesão, qualquer partilha efectuada, tem sido para nós uma
batalha ganha, uma grande vitória.” Professora Vanda Grilo
*Os depoimentos dos professores foram recolhidos na acção de
formação “Controlo do stress- uma aprendizagem para quem
ensina”, Proformar, 2004.
Bibliografia
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De Jonge, J., Ybema, J.F., & De Wolff, C.J. (1998).
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Sutherland, V.J. & Cooper, C.L. (s.d.). Sources of work
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